16/01/2020 às 06h40min - Atualizada em 16/01/2020 às 06h40min
Ministério da Agricultura encontra água contaminada com dietilenoglicol na fábrica da Backer


A auditoria feita na fábrica da cervejaria Backer constatou, nesta quarta-feira (15), que havia água contaminada com dietilenoglicol em uma etapa anterior ao tanque de fermentação – onde a substância já tinha sido detectada.

Segundo o Ministério da Agricultura, a água gelada que resfria o mosto (mistura inicial de ingredientes) também tinha traços da substância tóxica. Essa água, depois de resfriar o produto, também passa a compor a cerveja, porque é despejada em um novo tanque de mosto.

Em entrevista coletiva concedida nesta quarta (15), o coordenador-geral de Vinhos e Bebidas do ministério, Carlos Vitor Müller, disse que ainda não é possível saber em qual etapa houve a contaminação.

De acordo com Müller, a Backer possui apenas um tanque de água gelada e não está descartada que toda a cerveja produzida pela cervejaria tenha sofrido algum tipo de contaminação. Por essa razão, explicou, a fábrica foi interditada na sexta-feira (10).

Especialistas do Mapa periciam a fábrica da Backer desde a última quinta-feira (9). Um outro tanque, o de fermentação, também estava contaminado.

Com a descoberta de mais um tanque com a substância, existem suspeitas de que a contaminação possa ter sido causada em uma fase anterior, em que todas as marcas de cerveja da empresa passam.

Essa informação levou o ministério a solicitar o recall e suspensão de vendas de toda a cervejaria.

Segundo o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do ministério, Glauco Bertoldo, a investigação considera três hipóteses para a contaminação: sabotagem, vazamento ou o uso incorreto da substância para resfriar a produção.

Em nota, a Backer não se pronunciou sobre o tanque. Disse apenas que se solidariza com pacientes e familiares. "E reforça sua atenção e seu compromisso em disponibilizar todo o suporte necessário para cada um deles".

15 toneladas

O coordenador-geral de Vinhos e Bebidas do ministério disse que foram encontradas na fábrica notas de compra de 15 toneladas de monoetilenoglicol, que, após reações químicas, pode resultar em dietilenoglicol.

Ele informou não haver parâmetro para saber se essa quantidade é muito grande para o tamanho da fábrica, mas que isso levantou "suspeitas".

E acrescentou, "esse alto número pode ser explicado pela ampliação da linha de processo cervejeiro, quando você precisa de mais líquido para adicionar, mas também pode indicar falha do processo, onde você consome mais que o necessário. Ainda não verificamos para ver quanto a empresa precisa, mas ela adquiriu 15 toneladas do produto desde janeiro de 2018 até agora, o que nos levou a suspeitas”.

Na manhã desta quarta-feira (15), a Polícia Civil de Minas Gerais confirmou uma segunda morte decorrente da síndrome nefroneural.

A vítima é um homem, que não teve a identidade e a idade divulgadas até a última atualização desta reportagem. O paciente morreu no Hospital Mater Dei, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O corpo deverá passar por exames e perícia no Instituto Médico Legal (IML).

consumo da cerveja Belorizontina, da fabricante Backer. A substância tóxica dietilenoglicol foi encontrada em lotes do produto. Esta é a segunda morte relacionada ao caso confirmada oficialmente pela Polícia Civil.

A primeira vítima da síndrome a morrer foi Paschoal Dermatini Filho, de 55 anos. Ele estava internado em Juiz de Fora e morreu em 7 de janeiro.

Uma terceira morte ainda resta ser confirmada. Trata-se de uma mulher com sintomas da síndrome nefroneural em Pompéu, região Centro-Oeste de Minas Gerais. Este caso não constava no último balanço oficial da SES, mas a Secretaria Municipal de Pompéu informou ter notificado a pasta estadual.

Entre os sintomas da síndrome nefroneural estão alterações neurológicas, além de insuficiência renal. De acordo com a presidente da Sociedade Mineira de Nefrologia, Lilian Pires de Freitas do Carmo, os primeiros sinais de intoxicação por dietilenoglicol são dores abdominais, náuseas e vômitos. O tratamento é feito no hospital, com monitoração, e tem o etanol como antídoto.

Lotes contaminados com substância tóxica

Um laudo divulgado pela força-tarefa que apura o caso aponta que os lotes L1 1348, L2 1348 e L2 1354 estão contaminados por dietilenoglicol e monoetilenoglicol. A Backer considera que são dois lotes, sendo L1 1348 e L2 1348 duas linhas diferentes de um mesmo lote.

Substância tóxica foi encontrada em amostras de lotes da Belorizontina, que também usa o rótulo Capixaba, e em um tanque reservatório de liquido anticogelante, usado no processo de fabricação das cervejas da Backer.

Uma perícia contratada pela própria cervejaria confirmou a presença de dietilenoglicol na cerveja, conforme mostra o vídeo abaixo. Em nota divulgada no início desta tarde, a empresa informou que a "ainda está em andamento" e que "precisa aguardar a conclusão dos laudos para compartilhar os resultados com a sociedade".

A Backer disse ainda que "é a principal interessada na apuração dos fatos e que o objetivo é auxiliar e contribuir sem restrições com as autoridades."

Casos investigados

O último boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES), nesta terça-feira (14), apontava 17 pacientes, em Belo Horizonte e em outras cinco cidades do estado. Já a Polícia Civil investiga 18 caso.

Conforme a secretaria, são 12 notificações na capital mineira e os demais casos notificados são de moradores de:

  • Nova Lima, na Região Metropolitana;
  • São João Del Rei, no Campo das Vertentes;
  • São Lourenço, no Sul de Minas;
  • Ubá, na Zona da Mata;
  • Viçosa, na Zona da Mata.

Em quatro pessoas foram confirmadas a intoxicação pela substância tóxica dietilenoglicol.

'Não bebam a Belorizontina'

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) determinou, nesta segunda (13), que todas as cervejas da marca sejam recolhidas e que seja suspensa a venda de produtos. A medida é válida para qualquer rótulo da cerveja, além dos chopes, fabricado entre outubro de 2019 e janeiro. A Backer informou que pediu mais prazo à Justiça para fazer o recall.

A diretora de marketing da Backer, Paula Lebbos, pediu em entrevista coletiva nesta terça-feira (14) que as pessoas não consumam a cerveja alvo da investigação. A orientação vale também para a cerveja Capixaba, que é produzida no mesmo tanque e possui a mesma fórmula da Belorizontina, porém com rótulo diferente.

No início desta tarde desta terça (14), a Polícia Civil e o Mapa vistoriaram novamente a cervejaria Backer no bairro Olhos D'Água, na Região Oeste de BH. Nesta quinta-feira, a fábrica seguia interditada.

Por Lucas Ragazzi e Fernanda Calgaro, TV Globo e G1 Brasília 

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