03/03/2024 às 10h35min - Atualizada em 03/03/2024 às 10h35min
Fazer feira fica 266% mais caro para os baianos


Está cada vez mais difícil fazer refeições com pratos coloridos e diversificados na Bahia. Os itens de hortifruti (legumes, verduras e frutas) acumulam alta de 266% entre outubro do ano passado e fevereiro deste ano nas prateleiras dos supermercados. Os extremos climáticos e o El Ninõ interferem na produção de alimentos em território baiano, especialmente de alimentos como banana e cebola.

Um levantamento realizado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) indica que 76% de todos os itens do grupo de hortaliças pesquisados sofreram aumento no preço médio nos últimos quatro meses. Os que ficaram mais caros no período foram: inhame (266%), chuchu (249%) e abóbora (215%). Já no segmento das frutas, 62% dos itens tiveram aumento. O principal vilão foi a banana prata, com variação de 82%.

O quilo do produto era vendido por R$2,30 em outubro e saltou para R$4,25 em fevereiro. A alta dos preços sentida pelos consumidores é o último passo de um processo que tem início com a produção dos alimentos no campo. A cidade de Bom Jesus da Lapa, no oeste baiano, é a maior produtora de banana do Nordeste e a segunda do país, atrás apenas de São Paulo.

“Os produtores agrícolas convivem com a realidade das intempéries climáticas. Os desequilíbrios climáticos significativos, como o El Ninõ, perturbam a agricultura em todo o território nacional. A escassez de água na Bahia prejudicou a safra dos produtos”, explica Denilson Lima, economista da SEI. Bom Jesus da Lapa é uma das cidades que sofreram com as ondas de calor que afetaram mais de 100 municípios baianos no ano passado.

O El Ninõ, que também faz parte dessa equação, provoca o aquecimento das águas do Oceano Pacífico. A maior evaporação no oceano interfere no regime de chuvas do Norte e Nordeste, prolongando a estiagem. Em outubro, um estudo do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) revelou que 247 cidades da Bahia tinham ao menos 40% das áreas agroprodutivas afetadas pela seca. Isso significa 49% de todos os municípios do estado.

“A hostilidade do clima no verão contribui para a redução temporária da oferta de alimentos. É um efeito sazonal provocado pela elevação da temperatura e aumento do volume das chuvas”, explica André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre). Em Riachão das Neves, cidade que fica a 54 quilômetros de Barreiras, até as áreas irrigadas sentiram os impactos da seca.

“Mesmo nas lavouras irrigadas, que é o caso das bananas, as plantas sentiram muito porque tivemos calor excessivo e baixa umidade. Isso impactou significativamente a produtividade, que reduziu 30% entre janeiro deste ano e o mesmo mês do ano passado”, revela Márcio Oliveira, que há 10 anos produz banana e maracujá em Riachão das Neves.

A expectativa é que os efeitos climáticos percam força com a aproximação do outono, que terá início em 20 de março. Segundo Márcio Oliveira, já houve diminuição de preços na última semana de fevereiro. “É provável que o preço volte a ser mais acessível para o consumidor no mês de março”, diz. O efeito foi sentido, inclusive, no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que ficou em 0,78%. A taxa é uma prévia da inflação do mês e foi divulgada na terça-feira (27). “Foi uma boa notícia. O efeito está cedendo, o clima não penalizou tanto a lavoura”, afirma o economista André Braz.

Mas nem todos os alimentos terão diminuição imediata dos preços. No caso da cebola, que é produzida principalmente na região de Irecê, no centro-norte do estado, a previsão é de aumento. “Ainda temos previsão de muitas chuvas e estamos no período de colheita, o que afeta a qualidade do produto. Além disso, há o término da safra em Santa Catarina. Com pouca oferta, o preço aumenta”, pontua a Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb).

 

Por Maysa Polcri - Correio

 

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