20/08/2020 às 21h41min - Atualizada em 20/08/2020 às 21h41min
Rússia diz que negocia produção em massa da vacina com o Brasil e que imunidade pode durar 2 anos


Cientistas russos responsáveis pelo desenvolvimento de uma vacina contra a covid-19 afirmaram em entrevista coletiva realizada na manhã desta quinta-feira, 20, que já negociam com o Brasil e com alguns outros países a produção maciça do novo imunizante. A SputnikV, que obteve um registro provisório no início deste mês, começa a ser testada em massa já nos próximos dias e ofereceria imunidade contra o novo coronavírus por dois anos.

 

"Estamos conversando com outros países, como Índia, Brasil, Coreia do Sul e Cuba", afirmou Alexander Gintsburg, diretor do Instituto Gamaleya de Pesquisa em Epidemiologia e Microbiologia, na Rússia, onde a vacina SputnikV foi desenvolvida. "Eles têm potencial para produzir a vacina, para servir de 'hub', de base, para a produção da vacina."

O imunizante despertou desconfiança entre cientistas pelo mundo porque, embora o Ministério da Saúde do país afirme que as pesquisas estão na última etapa de estudos - a fase 3 - os resultados sobre as fases anteriores não foram divulgados em nenhuma revista científica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que está em contato com autoridades russas para receber e analisar os dados, mas a vacina não está entre as nove já incluídas na iniciativa Covax, que visa à compra coletiva e distribuição da imunuização pelo mundo.

Segundo Gintsburg a prioridade dos russos será a de negociar com países que queiram produzir o imunizante e tenham capacidade para tanto. No entanto, disse, há planos também para exportar a vacina.

Durante a coletiva realizada nesta manhã, os cientistas russos informaram que começarão nos próximos dias os testes em massa da vacina Sputnik em 40 mil pessoas. Paralelamente, explicaram, grupos mais vulneráveis, como profissionais de saúde atuando na linha de frente, serão já vacinados.

Segundo Denis Logunov, vice-diretor científico do Instituto Gamaleya de Pesquisa em Epidemiologia e Microbiologia, a vacina russa foi testada em vários animais, como coelhos, ratos e dois tipos de macacos, sem apresentar nenhum efeito colateral.

Posteriormente, informou, foi testada também em um grupo de 220 voluntários humanos, com idades de 18 a 60 anos. Os participantes apresentaram resposta imunológica positiva e os efeitos colaterais relatados foram brandos, como dores de cabeça. De acordo com os cientistas russos, esses testes corresponderiam às fases 1 e 2 das testagens.

"Os voluntários estão produzindo anticorpos, seus organismos reagiram bem e todos apresentaram uma boa resposta imune", garantiu Logunov.

Os russos explicaram que conseguiram chegar tão rapidamente a uma vacina porque estavam trabalhando num outro imunizante semelhante, a vacina contra a Mers - a síndrome respiratória do oriente médio, causada também por um coronavírus. Segundo eles, a vacina já havia chegado na fase 2, revelando segurança e resposta imune.

Por outro lado, eles também já tinham desenvolvido, em 2014, a partir da mesma metodologia, uma vacina contra o ebola, que foi testada, em fase três, em mais de duas mil pessoas.

A tecnologia usada é de uso de dois tipos de adenovírus humanos (que não causam nenhuma doença) que servem como vetores para levar para dentro do organismo fragmentos genéticos de uma proteína da coroa do Sars-Cov2. A vacina é administrada em duas doses, com intervalo de 21 dias. Os russos acreditam que ela poderá oferecer imunidade por dois anos.

"Com todos esses dados e baseados no fato de que a plataforma de adenovírus já foi usada antes em 20 mil pessoas, conseguimos o registro da nossa vacina, que nos permite produzir a vacina para os grupos de risco, pessoas que têm maior risco de ser afetados pelo vírus", explicou Logunov. "Mas somos obrigados a fazer mais ensaios clínicos, já acordamos um protocolo de 40 mil pessoas, para checar o grau de eficácia da vacina. Teremos, então, o registro definitivo, e poderemos começar a produção em massa."

 

 

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