No final do prazo dado pelo STF, Câmara aprova projeto que define compensação para desoneração da folha
No final da noite do último dia do prazo dado pelo Supremo Tribunal Federal, nesta quarta-feira (11), a Câmara dos Deputados aprovou, por 253 votos a favor e apenas 67 contrários, o projeto que garante fontes de compensação para a mautenção da desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia e de municípios de até 156 mil habitantes. Após a aprovação do texto-base às 23h54, a sessão seguiu para votação dos destaques apresentados. Como o projeto já havia sido também aprovado no Senado e não houve mudanças no texto, assim que forem votados os destaques, a matéria segue para a sanção presidencial.
Governo e Congresso passaram os últimos dois meses negociando um acordo em torno da solução para a compensação do impacto fiscal causado pela renúncia do programa. A negociação foi necessária após o ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspender a medida da desoneração que havia sido aprovada nas duas casas do Congresso.
A sessão desta quarta foi marcada pela tentativa de obstrução dos trabalhos por parte de parlamentares da oposição. Desde que foi iniciada a ordem do dia, no final da tarde, os partidos de oposição tentaram bloquear a votação de projetos.
Os parlamentares oposicionistas alegam que vão buscar paralisar os trabalhos da Câmara e do Senado até que o novo pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF, seja colocado em apreciação. Os deputados cobram que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), paute a matéria, assim como defendem a aprovação, na CCJ da Câmara, do projeto de anistia dos presos do dia 8 de janeiro de 2023. A instalação da CPI do Abuso de Autoridade também é reivindicada pela oposição.
A sessão desta quarta foi presidida pelo deputado Gilberto Nascimento (PSD-SP). O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mais uma vez não compareceu à sessão. Apesar de ser uma semana de esforço concentrado, Lira não participou de nenhuma votação no plenário, e nesta quarta, cerca de 50 deputados estavam presentes presencialmente, e o restante, votou de modo remoto.
O projeto aprovado nesta quarta, de autoria do senador Efraim Filho (União-PB), prevê uma reoneração gradual das empresas que são beneficiadas pelo programa. Em 2024 a desoneração se mantém da forma como é feita atualmente. Entretanto, a contribuição sobre a folha de pagamento passaria a crescer a partir do ano que vem: será de 5% em 2025, de 10% em 2026, de 15% em 2025 e chegaria em 20% em 2028.
A desoneração da folha substitui a contribuição previdenciária patronal de 20% de empresas de setores que são grandes empregadores por alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta. Essa troca diminui custos com contratações para 17 setores, como têxtil, calçados, construção civil, call center, comunicação, fabricação de veículos, tecnologia e transportes.
A lista de compensações garantida pelo projeto que agora vai à sanção presidencial inclui a repatriação de recursos depositados no exterior por brasileiros, mediante pagamento de Imposto de Renda. Nesse caso, não seria necessário trazer recursos para o Brasil, mas apenas regularizá-los.
O texto aprovado na Câmara foi relatado inicialmente pela deputada Any Ortiz (Cidadania-RS). Entretanto, a deputada devolveu a relatoria em protesto por não ter tido tempo para realizar mudanças no texto.
O novo relator, deputado José Guimarães (PT-CE), não fez alterações em relação ao que foi votado no Senado, também permite a atualização do valor de bens, especialmente de imóveis, e cobrar um Imposto de Renda reduzido sobre o ganho de capital. Hoje, o Imposto de Renda sobre ganho de capital sobre imóveis é cobrado na venda. A ideia é permitir antecipar a atualização de capital com uma alíquota reduzida ao se pagar IR.
Outra saída pensada após ampla discussão entre a equipe econômica do governo e senadores e deputados é a criação de uma espécie de Refis, ou um novo "desenrola", apenas sobre multas aplicadas por agências reguladoras e que ainda não entraram na dívida ativa.
Se o projeto não tivesse sido aprovado na Câmara, o governo Lula já havia anunciado que não iria pedir ao STF uma nova prorrogação do prazo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista a jornalistas na chegada à Fazenda após reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que não era responsabilidade da pasta solucionar a questão.
Por Edu Mota, de Brasília