23/07/2024 às 05h59min - Atualizada em 23/07/2024 às 05h59min
Fonoaudióloga denuncia ex-marido por agressões e violência sexual contra filha de 3 anos; homem nega acusações


A fonoaudióloga Tamires Reis usou as redes sociais para denunciar o ex-marido, Paulo Roberto Santos. Ela acusa o homem, que é dono de uma academia de tênis, de violência física e sexual contra ela e também contra a filha do casal, uma criança de 3 anos e 9 meses, em Salvador.

A mulher tornou o caso público, no domingo (21), após o Ministério Público da Bahia (MP-BA) pedir o arquivamento do caso por suposta falta de provas. Antes disso, o homem foi indiciado por estupro de vulnerável pela Polícia Civil.

Com a repercussão do relato nas redes sociais, o MP-BA voltou atrás e determinou o retorno dos autos à polícia para que as investigações sejam continuadas.

Em nota enviada à imprensa, o órgão disse que tomou a decisão "após o recebimento de informações adicionais, que não haviam sido anexadas ao inquérito policial".

"O MP havia solicitado o arquivamento do caso com base no inquérito policial que não identificou indícios suficientes de autoria e materialidade para a configuração do crime", justifica o texto.

amires afirma que há outros diversos documentos que não foram levados em conta no processo, como relatórios de psicólogos e outros profissionais de saúde, além de depoimentos dela e de sua mãe.

Violência contra a criança

A fonoaudióloga afirma que começou a desconfiar dos abusos quando se separou de Paulo Roberto Santos. Na época, a criança tinha 1 ano e 6 meses.

Segundo a mãe, a filha passava cerca de três dias por semana na casa do pai, sempre demonstrando forte sofrimento com os encontros. Conforme apontado por Tamires:

 

  • antes de ir, a pequena chorava, sentia medo, se agarrava aos familiares e cuidadores em súplica para que não fosse entregue ao pai;
  • depois, ficava irritadiça, batia a cabeça no chão, mordia os outros e a si mesma.

 

"A escola solicitou acompanhamento psicológico e colocou auxiliar extra para conter as agressões [aos coleguinhas] e autoagressões", relatou.

 

Tamires detalha que a filha passou a voltar da casa do pai com marcas roxas pelo corpo até que, em julho de 2022, notou uma vermelhidão nas partes íntimas. De acordo com ela, nessas ocasiões, a filha bloqueava qualquer contato, prejudicando até a troca de fralda e higienização.

 

Depois disso, ela conta que questionou o ex-marido, que teria negado qualquer agressão. Mas com a desconfiança, a mulher instituiu que a menina só fosse até a casa de Santos acompanhada por uma babá.

 

Ainda assim, as violências não teriam cessado até que, em setembro passado, a criança teria feito "gestos obscenos, de cunho sexual, incompatíveis com a idade dela".

 

"Ali eu tive a prova concreta que tudo que eu estava sentindo, tudo que minha filha estava gritando, era verdade, que ela estava passando por uma violência sexual".

 

A partir disso, Tamires prestou queixa na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes contra a Criança e o Adolescente (Dercca), registrou o caso no Instituto Médico Legal, Conselho Tutelar, entre outros órgãos. A Justiça, então, concedeu medida protetiva a ela, mas não à criança. Pelo contrário, a determinação judicial vigente prevê guarda compartilhada.

 

Histórico de agressões

 

Ao expor agressões contra a filha, a fonoaudióloga lembra que ela própria viveu uma relação abusiva com Santos. Os dois passaram quase 10 anos juntos.

 

Entre os episódios, a mulher destaca:

 

 

  • um tapa na cara no momento que amamentava a então bebê;
  • um estupro sete dias após dar à luz a menina.

 

O vídeo divulgado por ela nas redes sociais encerra com gravações feitas na casa do casal, em que o homem xinga ela de "put* do caralh*" e diz coisas como: "Eu sou 300 vezes mais inteligente e tenho mais poder que você" e "Eu mando e você obedece, é simples assim".

 

"Eu e minha filha estamos correndo perigo", resumiu a mulher no pedido de ajuda.

 

Pai nega as acusações

 

g1 procurou Adriano Argones, advogado de Santos, que disse ainda não ter sido notificado de que o MP-BA pediu a retomada das investigações. De acordo com o defensor, a "Promoção de Arquivamento está muito bem fundamentada e se justifica na ausência de qualquer indício de materialidade e autoria dos fatos denunciados".

 

Como argumentos em defesa de seu cliente, Argones destaca o depoimento de uma mulher que trabalhou na residência em que o casal morava com a criança. No vídeo, ela diz que acompanhou a época da separação e "viu tudo de perto quando aconteceu".

 

"Tudo isso que ela [Tamires] está falando é inverdade, é mentira", contestou a profissional, acrescentando que Santos seria amoroso com a criança.

 

Uma babá também depôs em defesa do homem, afirmando que ele tratava a menina com carinho.

 

Já a escola produziu um relatório utilizado pela defesa de Paulo. No documento, a instituição de ensino confirma os relatos de agressividade por parte da criança, mas diz que ela demonstra "alegria" e permanece "tranquila" na companhia do pai.

 

O homem registrou um boletim de ocorrência contra a ex-mulher, alegando que desde a última segunda (15) não sabe o paradeiro da filha.

 

Investigação em curso

 

Diante do novo posicionamento do MP-BA, a polícia deve retomar o caso. Também procurado pelo g1, o advogado Victor Câmara, que representa Tamires, disse que já havia feito um recurso para a instância de revisão ministerial. Agora, com a expectativa de que a investigação seja continuada, o defensor aguarda o desenrolar do processo.

 

 

Por g1 BA e TV Bahia

 

 

 

 

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