25/10/2023 às 17h12min - Atualizada em 25/10/2023 às 17h12min
Dobra número de crianças que acessam internet antes dos 6 anos


A vida online está começando cada vez mais cedo para as crianças brasileiras. Em 2015, entre os internautas de 9 a 17 anos, 11% haviam acessado a internet pela primeira vez até os 6. De lá para cá, esse número foi crescendo e mais do que dobrou. Atualmente, são 24% os que começaram a vida digital na primeira infância.
 

Já o número daqueles que dão início ao acesso às redes quando estão mais velhos vem se reduzindo. Em 2015 eram 15% os que haviam entrado na internet pela primeira vez depois dos 12 anos. Em 2023, são 7%. O número daqueles que não lembram quando começaram a vida digital também aumentou, de 12% para 19%, o que pode indicar que mais crianças tenham iniciado no universo online quando eram muito pequenas.
 

A pesquisa considera acessos feitos por meio de computadores, TVs, celulares e videogames.
 

Os dados fazem parte da TIC Kids Online Brasil, pesquisa que é referência no comportamento digital na infância e na adolescência e será apresentada nesta quarta-feira (25) no 8º Simpósio de Crianças e Adolescentes na Internet, em São Paulo.
 

Foram entrevistados presencialmente 2.704 crianças e adolescentes, de 9 a 17 anos, e seus pais ou responsáveis, entre março e julho deste ano. Realizado anualmente desde 2012 (com exceção de 2020, na pandemia), o estudo é coordenado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, que reúne representantes de governos e da sociedade civil.
 

Os resultados apontam para um uso cada vez mais precoce da internet, o que pode trazer prejuízos ao desenvolvimento cognitivo, físico e à saúde mental, entre outros, na visão de especialistas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que bebês de até dois anos não tenham acesso às telas e que crianças de até cinco anos sejam expostas a elas, no máximo, uma hora por dia, e com conteúdo controlado pelos pais.
 

Um outro dado da pesquisa revela que a internet está ganhando espaço com os mais novos, especialmente após a pandemia e o fechamento prolongado das escolas no Brasil. O número de usuários de 9 e 10 anos subiu quase 40%. Em 2015, eram 63% da população brasileira nessa faixa etária; em 2023, já são 87%.
 

"A partir das evidências desse uso cada vez mais precoce, a sociedade precisa debater como garantir os direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes, considerando também o ambiente digital", afirma à Folha Luísa Adib, coordenadora da pesquisa. "É preciso garantir a privacidade e a proteção dessa população. Temos que pensar em como proteger a infância e a adolescência brasileiras na era digital."
 

O maior crescimento do uso de internet na infância e na adolescência se deu na classe DE, que passou de 56% em 2015 para 89% em 2023. Na classe C, também subiu, de 87% para 97%. Na AB, o uso já era generalizado e se mantém estável, perto de 100%.
 

Os hábitos digitais devem acender um alerta para pais e educadores. Atividades ligadas ao consumo estão em alta, como a pesquisa para comprar produtos, feita por 61% das crianças e jovens, e mesmo as compras, realizadas por 22%. Na enxurrada de propaganda direcionada por algoritmos, 84% ficam com vontade de ter algum produto e 73% se sentem chateados quando não podem comprá-lo.
 

Menos da metade dos pais (43%) dizem conversar com os filhos sobre as propagandas que eles veem e lhes explicam o objetivo desse tipo de conteúdo. Apenas 28% utilizam filtros ou configurações para restringir o contato das crianças com publicidade.
 

Outros dados preocupantes: 16% afirmam ter recebido mensagens de conteúdo sexual e 9% viram imagens sexuais e já tiveram pedido de foto ou vídeo em que aparecem pelados.
 

Sem noção dos riscos, 31% das postam ou compartilham o local onde estão, segundo a pesquisa.
 

Chama a atenção a busca crescente, no pós-pandemia, por informações sobre sentimentos, sofrimento emocional, saúde mental e bem-estar: 34% fazem isso atualmente, ante 17% em 2021. A procura por informações sobre medicamentos também aumentou, de 17% em 2021 para 25% neste ano.
 

Crianças e adolescentes dominam habilidades para utilizar a internet do ponto de vista técnico: baixar aplicativos (96%), conectar-se a uma rede wi-fi (93%) e salvar uma foto (91%), por exemplo. Dizem saber quais informações devem ou não compartilhar (83%) e reconhecer quando alguém está sofrendo bullying (81%). Mas fica evidente que desconhecem a complexidade do universo digital quando a metade diz acreditar que a primeira publicação que vê nas redes sociais é a última postada pelo seu contato –e não uma imposição do algoritmo a partir de informações coletadas do usuário.
 

Além disso, 47% dizem crer que todos encontram as mesmas informações quando realizam a mesma pesquisa e 40% confiam que o primeiro resultado de uma busca é sempre a melhor fonte de informação, sem entender o papel dos algoritmos.

 

 

Por Laura Mattos | Folhapress

NOTÍCIAS RELACIONADA
Dobra número de crianças que acessam internet antes dos 6...
Milhões de brasileiros têm dificuldades de pagar suas...
Revoltado, homem termina relacionamento após noiva colocar cachorro em...
Líder em energia eólica e solar, Nordeste mira hidrogênio renovável e atrai...
GALERIAS
CLASSIFICADOS